terça-feira, 23 de dezembro de 2014

2014

Venho há semanas sentindo a necessidade de fazer um "relatório do ano" aqui no blog. Não por achar que alguém vai ler - muito pelo contrário pois não vou compartilhar em nenhuma rede social - mas por considerar o blog uma maneira de eternizar os acontecimentos no espaço e tempo, uma vez que agendas vão pro lixo quando fazem aniversário de 2 ou 3 anos.
2014 começou diferente pra mim. Comigo diferente. Involuntariamente passei a gostar de coisas que não gostava e a ter hábitos que não tinha, como ir à festas e conhecer pessoas novas. Tornei-me mais sociável, passei a ter mais amigos. Amigos de amigos. Amigos desconhecidos. Algo em mim forçava a barra pra ser algo que eu nunca fui, mesmo que sem perceber. E eu estava adorando.
Por um mês namorei. Poderia adicionar aspas à última palavra da frase anterior, mas esse não é o foco da postagem. Fiquei magoada - e doente - até a metade de maio, e daí desencanei. Foi aí que o ano começou. Com o pé esquerdo, mas eu não sabia.
O temido "quinto dos infernos" (semestre famoso por ser difícil) passou voando entre muitas idas à Gonçalves, carreteiros e ao querido Bar do Zé, e por causa disso nem sei o que é terapêutica. Imunologia até que entrou goela abaixo pela necessidade de recuperar nota. Patologia eu esqueci. As outras disciplinas eu não lembro quais eram. Mas a cerveja estava sempre gelada.
As férias podem ser resumidas em muitas idas à restaurantes, fast foods, jantinhas em casa e, é claro, muita bebida. O cardápio era basicamente: José Cuervo Silver, Jack Daniels com energético, ceva Polar, caipa de Velho Barreiro, batatinha frita, chopp que eu estava bêbada demais pra saber a marca, e muito Mc Donnalds na finaleira da notite. Paremos por aqui. Até tinha o adesivo do caneco dourado no aplicativo Swarm por fazer check-in em: Gonçalves Chaves - Faixa de Gaza, Boteco do Serginho, Nova York Irish Pub, Papuera, Oponente, Observatório, Bar do Seu Delamar, Galpão do Rock, Bar do Zé, Quadrado, Bierlager, DC Eventos, Choperia Cruz de Malta, casa do Fulaninho, dentre outros recintos etílicos. Também teve a Copa do Mundo, sempre em algum boteco e regada à muita cerveja, chopp e 7x1 pra Alemanha.
O Bar do Zé nas quintas foi simplesmente sagrado. Não me lembro de ja ter ido à um lugar tão engraçado, mas também não me lembro de muita coisa. Nem de como eu chegava em casa. Ah, acho que meu carro é tão moderno que veio com função teletransporte! Sabia direitinho ir da Gonçalves pra casa, do Delamar pra casa, do CTG pra casa, do Porto pra casa... Nunca bati porque realmente devo dirigir muito bem. Mas chegava em casa e dava um branco.
Veio o sexto semestre, conhecido internacionalmente por ser umas baitas férias de 4 meses bem no meio do curso. Lembro de ter entrado em sala de aula no primeiro dia do semestre prometendo que eu beberia todos os dias do semestre. E assim fiz, até o dia 24 de setembro. Menina, que porre!
Foi cruel. Foi destruidor. Foi de rastejar até o banheiro umas 15 ou 20 vezes pra vomitar água, bile, ar, qualquer coisa que insistisse em ficar dentro do meu estômago por mais de 1 minuto. O carro tinha ficado à um ângulo de 45 graus com a casa, obrigando os clientes da oficina a fazerem um zigue-zague, contornando ele pra poder entrar no pátio. Tinha meio copo de caipirinha no console e a outra metade tinha sido derramada no banco do carona. Aos poucos fui lembrando - porém jamais saberei a ordem dos fatos - que: gritei no portão da Cohabpel por uma mulher chamada Valéria (que eu não conheço), busquei em casa o ex namorado da minha amiga, essa mesma amiga me contou um segredo que eu não faço ideia qual é, vomitei no chão da sala do fundo do Papuera, comi um Subway que encontrei no dia seguinte boiando em pedaços no meu vômito, dancei Pump no Pool Bar, entrei num boteco na Bento só pra mijar, bati com o fundo do carro no cordão do canteiro central da Bento porque não controlei a embreagem pra tirar o carro de ré.
No dia 25 eu chorei muito. Chorei pensando pra onde esse caminho que eu havia escolhido estava me levando. Pensando que estava desperdiçando minha faculdade, desprezando as disciplinas onde eu poderia ter aprendido muita coisa. Chorei ao perceber o quanto eu havia me tornado improdutiva. Estava imprudente comigo mesma. Estava desleixada, me tratando como um lixo, comendo porcarias e usando o álcool como meu combustível todos os dias. Bebendo todos os dias, até em casa, e dirigindo bêbada ao voltar da rua pelo menos 4 dias na semana. Eu simplesmente estava virando uma alcoólatra.
Prometi pra mim mesma que iria parar, pelo menos até o Natal. As semanas seguintes foram difíceis, sentindo na pele a abstinência. Não tinha ânimo pra nada, me sentia cansada, desanimada, me perguntando se valia a pena não beber se eu ficaria me sentindo daquele jeito. Seis quilos acima do peso, não sentia que aguentaria alguma atividade física. Parecia que eu ia morrer de desânimo e fraqueza.
Mas passou. Aos pouquinhos, mas consegui vencer a primeira etapa. Consegui superar o cansaço e decidi voltar a fazer estágio e levar o estudos à sério. Tomei a decisão de aproveitar a faculdade ao máximo, de ler mais, de correr atrás do que deixei de aprender.
Voltei a me exercitar, e foi aí que redescobri o Yoga. Como não gosto de puxar ferro, resolvi tentar praticar novamente. Me apaixonei. Não pela prática, mas por eu mesma. Estou aos poucos me redefinindo, e o Yoga tem me ajudado - nada como pessoas com bons hábitos e bons papos pra incentivar. A prática em si também, pois tenho encarado e me encarado, buscando me conhecer e me aprimorar, física e mentalmente. E não poderia deixar de citar minhas caminhadas com a mamãe, que são uma verdadeira terapia.
No embalo de recomeçar, redescobrir e redefinir, decidi que seria simbólico - e bom - cortar o cabelo, dando um adeus às pontas secas, duplas e espigadas e ao meu personagem de "loira-gostosa-do-cabelo-comprido-que-sai-e-bebe-muito". Agora sou a loira gostosa do cabelo médio que não é mais seco e que vai ser uma super veterinária!
Por fim, concluo que esse ano não foi um ano de mudanças e conquistas, mas sim de um despertar. A estrada será longa, pois ainda tem coisas que me deixam desconfortáveis e muitas coisas que preciso mudar, mas já me sinto uma pequena vencedora. A promessa de não beber até o Natal caiu por terra, não porque eu já bebi mas sim porque eu não quero beber nunca mais! O ano está acabando e eu finalmente estou feliz, me amando e me sentindo, grata pelo que tenho e buscando melhorar em tudo que posso, um passo de cada vez.
Que 2015 seja um ano de muita luz, e que outras pessoas possam assim como eu, despertar. Que eu aproveite muito as férias e que o sétimo semestre seja maravilhoso. Que eu me esforce no murinho de escalada pra ver resultado na pedra, e não desista como já fiz mil vezes. Que tenha muito Yoga e muita caminhada na Dom Joaquim, muito chimarrão e chai, muitos filmes e livros. Que 2015 traga tudo que faltou em 2014 e que 2014 não aconteça de novo nunca mais.
Namastê.